
A popularização do home office se tornou inevitável durante a pandemia do coronavírus e muitos acreditam que se tornará um legado destes tempos difíceis.
Enquanto o estilo de trabalho no conforto de casa passou a ser elogiado por muitos trabalhadores pelo mundo, um fenômeno na contramão tem sido observado no Japão.
Uma pesquisa do portal Nikkan SPA!, com 500 trabalhadores de empresas japonesas, entre 30 e 59 anos, mostrou que, para muitos, o home office se tornou um fardo.
A questão principal aos entrevistados foi“de que forma o estilo de trabalho mudou depois da pandemia?”.
Apenas 13% responderam que a mudança foi para melhor, enquanto que 37% dos trabalhadores disseram que piorou.
Para 50% dos entrevistados, não houve mudanças, provavelmente por realizarem um tipo de trabalho no qual o home office não é viável.
Para o professor de Ciências Políticas da Universidade Doshisha em Quioto, Hajime Ota, a pesquisa mostra uma clara tendência negativa com relação ao estilo de trabalho em casa.
“Acredito que muitos que disseram que o estilo de trabalho melhorou são de áreas criativas e especializadas, que já estavam acostumados ao trabalho remoto. Sendo assim, a proporção de trabalhadores insatisfeitos com a rotina de trabalho em casa é bastante elevada”.
MOTIVOS

Para os trabalhadores japoneses acostumados com o trajeto de trem, a rotina nas empresas e a vida um pouco afastada do âmbito doméstico, a adaptação ao home office pode ter sido desafiadora.
Com relação aos motivos da piora, a maioria dos trabalhadores reclamou da redução da comunicação direta e do baixo envolvimento com os colegas.
Muitos também disseram que o trabalho se tornou “indiferente” e pouco motivador. A falta dos estímulos que recebem fora de casa, a impossibilidade de fazer refeições com os colegas e a falta de conexões pessoais se tornaram pontos negativos.
“Neste ponto, podemos perceber que o home office não possui apenas méritos como muitos pensam, há também desvantagens e perdas neste estilo de trabalho”, reiterou Ota.
Alguns japoneses também reclamaram das dificuldades digitais, que antes não faziam parte da rotina de trabalho, como a necessidade de fazer reuniões por aplicativos de chamadas.
ABUSOS NO TRABALHO REMOTO

Desde o inicio da pandemia, um novo termo passou a fazer parte dos sites de notícias japoneses, o “terehara” (テレハラ).
O termo que se traduz como “abusos no trabalho remoto” foi identificado por muitos trabalhadores, que tiveram que se adaptar com uma nova rotina de atividades em casa.
Um estudo realizado em maio pelo Instituto de Pesquisa Persol em Tóquio, mostrou que muitos trabalhadores estavam sofrendo algum tipo de abuso em casa.
A principal reclamação foi com relação as tentativas das empresas de vigiar os funcionários em trabalho remoto.
Alguns entrevistados relataram que o chefe obrigava a deixar o computador em uma vídeo chamada eterna durante o período de trabalho, para ter certeza de que o funcionário estava mesmo trabalhando.
Em outros casos, o problema também foi da falta de privacidade, já que as reuniões por vídeo em casa acabavam por expor demais a vida pessoal do trabalhador.
No caso das mulheres, houve queixas com relação ao assédio sexual, que se tornou até mais escancarado do que dentro da empresa.
As queixas foram sobre perguntas íntimas por vídeochamadas e dificuldade de desligar as ligações, por causa de conversas insistentes de chefes ou colegas.
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