Brasileira vai embora do Japão e deixa gatos presos em apartamento cheio de lixo: veja o vídeo

Esquerda: apartamento abandonado em Nagoya / Direita: gato resgatado no abrigo em Nishio (arquivo pessoal)

Era meados de setembro quando Lana* trancou a porta de seu apartamento em Nagoya (província de Aichi) pela última vez.

O plano era retornar ao Brasil com a filha pequena e passagens só de ida. No entanto, ela foi embora do Japão como se fosse fazer um passeio qualquer e voltar no fim do dia.

Do lado de dentro do apartamento, em um prédio de administração pública, Lana deixou os pertences de que não precisava mais, roupas, muito lixo acumulado e seus dois gatos.

Quase uma semana depois, a brasileira entrou em contato com a organização sem fins lucrativos (NPO) TNR Felinos Japan, com sede na província vizinha de Shizuoka e pediu para que um dos gatos fosse resgatado.

Por mensagens, ela contou que Julia*, sua amiga, deveria passar no apartamento para buscar os animais, mas a amiga levou apenas um dos gatos e deixou o outro para trás.

A conversa inicial era de que Julia não conseguiu encontrar o outro gato no meio da bagunça.

Mais tarde, as voluntárias que fizeram o resgate descobriram que a amiga não queria ficar com os dois gatos. Ela levou para a casa apenas o animal que era de raça.

Julia chegou a dizer ainda, ao funcionário da administração do apartamento, que ele poderia soltar o outro felino na rua se quisesse.

Foto: Johannes Ahlström (www.johannesahlstrom.se)

RESGATE

Elen Tanaka, da TNR Felinos Japan, repassou o caso para Cintia Shizuka, que é voluntária do abrigo Animal Family Azuki Ikka, sediado na cidade de Nishio, mais perto de Nagoya.

Cintia acionou a japonesa Uemura (pediu para ser identificada apenas pelo sobrenome), que é uma das responsáveis pelo abrigo. As duas correram contra o tempo para contatar a gerência do prédio e resgatar o gato que já estava há uma semana sozinho.

O que elas encontraram ao chegar no apartamento onde a brasileira morava, foi um cenário desolador.

“Eu fiquei revoltada e ao mesmo tempo envergonhada. E muito triste pelo gato. Quando vi a situação que estava aquele apartamento, eu rezei muito para que a gente o encontrasse com vida”, relatou Cintia ao Japão sem Tarjas.

Cintia e Uemura entraram no apartamento com um representante da administração do prédio e ficaram uma hora procurando o gato no meio da bagunça, o odor forte de urina e fezes.

Não havia água e nem caixinha de areia, apenas comida estragada, como um onigiri apodrecendo no chão. Elas temiam a possibilidade de encontra-lo morto.

Quem achou o felino foi Uemura, ao vasculhar um dos armários. Felizmente, ele estava vivo, apesar de debilitado. “Eu agarrei o gato e a Cintia correu com a caixa transportadora. Ficamos muito gratas por ele ainda estar vivo”, contou Uemura.

O gato foi levado ao abrigo em Nishio e elas agora lutam para resgatar o outro animal, levado pela amiga de Lana.

CONSEQUÊNCIAS

Cintia conta que este não é o primeiro caso de resgate de gatos por causa da irresponsabilidade de donos brasileiros que vivem na região de Aichi.

Por causa da crise, desemprego e dificuldades financeiras, outras pessoas podem decidir abandonar seus apartamentos e animais, em um fenômeno semelhante ao registrado entre os anos de 2008 e 2009, marcados pela crise mundial.

O ato não é apenas irresponsável, mas também criminal, pois fere a lei de proteção animal do Japão. Além de Lana, a amiga que levou um dos gatos e deixou o outro para trás, sugerindo que pudesse ser abandonado na rua, também pode ser incriminada.

De acordo com as leis do Japão, o crime de abandono e maus tratos de animais pode ser penalizado com prisão ou até ¥1 milhão em multa.

“A Uemura pediu desculpas para mim, por eu também ser brasileira. Ela me disse que não deixará passar. Esse caso será denunciado para a polícia como maus tratos aos animais”, diz.

Casos como este não são raros e não acontecem apenas com estrangeiros que estão deixando o país.

Em abril deste ano, o Centro de Informações de Proteção Animal de Shibuya relatou um caso parecido em sua página, que infelizmente não acabou em final feliz.

Uma pessoa se mudou de uma moradia pública perto de Omotesando em Tóquio, deixando dois gatos presos no apartamento antigo.

Tempos depois, quando o serviço de limpeza entrou no local, acabou encontrando os animais mortos.

*Nomes fictícios
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(Matéria publicada em 3 de outubro de 2020)

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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