
Os dados são alarmantes e vem chamando a atenção das autoridades do país há mais de três meses.
Em junho, o suicídio entre mulheres aumentou em 1,2% com relação a junho do ano passado. Em julho, o aumento foi de 14,6% e em agosto, atingiu a marca de 40%.
O fenômeno também foi observado na Coreia do Sul e provocou uma união rara entre as autoridades dos dois países.
Japão e Coreia do Sul decidiram trocam informações para tentar resolver o mistério que parece apontar para o mesmo caminho: a piora das condições de vida, provocada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Segundo reportagem do jornal Sankei, as autoridades desconfiam que a pandemia tenha aumentado a pressão sobre as mulheres.
Condições instáveis de emprego, situação financeira preocupante e o peso de criar os filhos em meio as incertezas podem ter sido os motivos para que tantas mulheres tirassem a própria vida.
DADOS ALARMANTES

O suicídio sempre foi uma questão social grave no Japão, mas graças aos esforços do governo na prevenção, os índices estavam em queda.
Este ano, após os efeitos da pandemia e a crise financeira, os dados gerais começaram a aumentar.
As taxas de suicídio estavam até mais baixas do que os dados do ano passado no primeiro semestre do ano. O aumento nos dados gerais foi de 15,3% em agosto, com relação ao mesmo mês de 2019.
Neste período, 1.849 pessoas tiraram a própria vida, com um destaque maior para os casos de mulheres.
A taxa de suicídio do Japão atingiu o pico em 2003, ano em que cerca de 34 mil pessoas tiraram a própria vida. Desde então, os dados estavam em queda anual.
No ano passado, o registro ficou em 20.169 casos. Apesar de elevado, foi o dado mais baixo desde que o governo passou a contar as estatísticas, no ano de 1978.
CONSULTAS

O governo japonês ainda vai analisar e divulgar se o coronavírus realmente tem culpa no aumento de casos, mas há instituições que já alertaram que sim.
Uma delas é a NPO (organização sem fins lucrativos) Anata no Ibasho, que administra um serviço de consultas online e gratuitas, com funcionamento de 24 horas.
Segundo o jornal Sankei, a organização registrou um aumento nas consultas desde março e já ajudou mais de 1.500 pessoas com suas questões pessoais.
De todas as consultas que chegam, 60% são de mulheres.
“A faixa etária das pessoas que consultam tem caído e muitas não tem 20 anos. Há muitos casos de problemas relacionados ao estresse de trabalho ou a escola”, diz Koki Ozora, representante da NPO.
Depois do estado de emergência em abril e maio, declarado em decorrência da pandemia, a instituição passou a receber consultas mais específicas.
“Notamos que muitas mulheres nos procuraram com preocupações relacionadas a criação dos filhos e ao estresse dos afazeres domésticos, em virtude da pandemia”, diz Koki.
Para o professor de psicologia social Mafumi Usui, da Universidade Niigata Seiryo, a pandemia provocou uma troca de cenário que tem afetado principalmente as mulheres.
“A suspensão de aulas, o home office, as limitações de compras, afazeres domésticos e responsabilidades com as crianças aumentaram a sobrecarga sobre as mulheres. Coisas que não causavam estresse antes, se tornaram um problema”, analisou.
A pandemia deixou incertezas sobre quando a vida voltará ao normal e piorou as condições financeiras de muitas famílias. “Não saber o que irá acontecer é algo que por si só gera um estresse enorme. Há um evidente acúmulo de sobrecarga e cansaço”, explicou.
*Siga a página Japão sem Tarjas para acompanhar novas publicações
(Matéria publicada em 23 de setembro de 2020)