
Um jovem de 20 anos, que trabalhava na cozinha de um restaurante luxuoso de sushi em Tóquio, acabou demitido depois que o chefe descobriu que ele tinha uma tatuagem.
Segundo uma reportagem do jornal Asahi, o jovem não trabalhava em contato com os clientes e a tatuagem não estava visível. Em julho, ele fez uma refeição com o dono do restaurante e um amigo que estava presente mencionou a tatuagem.
Dois dias depois, o jovem acabou demitido e a justificativa foi de que ele “sujou a honra” da empresa.
Inconformado, o jovem entrou com um processo contra a empresa na terça-feira (1) e está exigindo uma indenização de ¥5,8 milhões.
A administração do restaurante voltou atrás na decisão de demitir o funcionário, mas ele foi diagnosticado com depressãoe ainda não conseguiu voltar a trabalhar.
O restaurante, apesar de ter voltado atrás, impôs a condição de que, enquanto a tatuagem não for removida, o jovem está proíbido de entrar em contato com os clientes e deve ficar apenas na cozinha.
O caso reacendeu o debate sobre o preconceito com tatuagens na sociedade japonesa. Nas redes sociais, japoneses expressaram opiniões e chamou atenção a quantidade de manifestações contra a postura do restaurante.
A arte corporal é associada aos grupos mafiosos e apesar de ter se tornado algo comum e popular no mundo, muitos locais de trabalho e principalmente banhos públicos no Japão não conseguem desfazer a imagem de que tatuagem é sinônimo de ligação com grupos criminosos.
PENSAMENTO ANTIQUADO

Segundo uma reportagem do portal Iza, o caso provocou uma enxurrada de comentários criticando a postura do restaurante e o pensamento antiquado de que tatuagem é sinônimo de falta de seriedade e de criminalidade.
“Ele tinha tatuagem e estava trabalhando seriamente. Se ninguém tivesse dito nada, não teria como perceber. No momento que o chefe soube, decidiu demitir. Isto é muito inadequado!”, criticou um usuário do Twitter.
“Dá para acreditar em uma demissão por causa de tatuagem? Em que era nos estamos?”, disse outro usuário. “Se isto nem estava nas normas de trabalho, a demissão é inapropriada”, constatou outro internauta.
Outro usuário lembrou da crescente presença de estrangeiros no Japão e no fato de que a tatuagem é uma prática artística muito comum em vários países.
“O Japão está aceitando cada vez mais estrangeiros, está na hora de começar a tolerar as tatuagens”, disse.
Um internauta chamou atenção ao lembrar que a qualidade do sushi não tem nada a ver com as tatuagens dos funcionários.
“Entre um restaurante de sushi ruim com funcionários sem tatuagem e outro bom com os funcionários tatuados, não tenho dúvida sobre qual escolheria. Gostaria que esse jovem abrisse o “sushi dos tatuados”, com certeza ganhará popularidade entre os turistas estrangeiros”, sugeriu.
OPINIÕES A FAVOR
Além dos numerosos comentários de pessoas interessadas em ver o Japão mais aberto para quem tem tatuagem, houve também manifestações no que saíram em defesa do restaurante.

Um internauta disse que “não quer comer um sushi preparado por alguém que tem valores que o permitam fazer uma tatuagem” e outro disse que seria “absurdo”, em um restaurante caro, ter “uma pessoa preparando sushi e exibindo a tatuagem aos clientes”.
Outras opiniões levantaram a questão de que o Japão precisa aprender a separar a tatuagem artística, muito comum aos estrangeiros, daquela relacionada aos membros da mafia.
“No Japão as tatuagens estão muito ligadas aos grupos violentos. Os restaurantes de sushi representam a cultura gastronômica do Japão e inspiram confiança na condição de produto”, explicou um usuário.
O FUTURO E AS TATUAGENS
O debate com relação a discriminação de tatuagens mostra que, mesmo entre os japoneses, tem crescido a ideia de que tatuagem é arte e não pode ser motivo para recusar ou negar a presença de alguém.
Muitos locais de águas termais negam a entrada de clientes tatuados, sob a perspectiva de que uma pessoa com tatuagens no corpo causará desconforto aos outros clientes, que podem pensar que ela faz parte de um grupo criminoso.
Não há leis no Japão que proíbam a presença de pessoas com tatuagens em determinados locais. Em relação as águas termais, há determinações legais que proíbem a entrada de pessoas com doenças contagiosas, comportamento violento ou possibilidade de sujar o local.
Nenhuma dessas determinações se encaixam no caso dos tatuados. Segundo reportagem do portal Shobunsha Scrap Book, um funcionário do Departamento de Higiene e Cotidiano do Ministério da Saúde confirmou a irregularidade.
“Só de ter uma tatuagem o cliente não pode ser visto como um portador de doença contagiosa ou alguém que irá sujar as banheiras. Não é possível recusar a pessoa por este motivo”, explicou.
Na prática, no entanto, a história é outra. Muitos banhos públicos possuem placas informando que não é permitida a entrada de pessoas com tatuagem.
Mesmo assim, alguns se arriscam a entrar e tentam esconder os desenhos no corpo.
Não há registros de casos de recusa que tenham sido levados aos tribunais, porém, há um caso de 2002, de um norte-americano que foi recusado em um banho público em Hokkaido, no norte do Japão, por ser estrangeiro.
O caso foi levado ao tribunal, que reconheceu como discriminação racial. A empresa que administra o banho público teve que pagar ¥3 milhões de indenização.