
A pandemia do coronavírus trouxe dificuldades para pequenos e médios negócios, além de afetar também os profissionais autônomos e freelancers.
Para amenizar os danos econônicos, o governo japonês entrou com o “Auxílio para Pessoas Jurídicas e Autônomas” (Jizokuka Kyufukin (持続化給付金) e passou a ofertar ¥1 milhão (cerca de R$ 52 mil) aos autônomos que perderam renda na pandemia.
Neste contexto, jovens que garantiam suas rendas através de encontros amorosos com os chamados “sugar daddies” (homens mais velhos com poder aquisitivo) acabaram se encaixando nos requisitos do sistema.
Uma reportagem do portal Money Post, que entrevistou uma dessas jovens, gerou grande repercussão nas redes sociais do Japão e muitas críticas de internautas.
Depois de ouvir de uma jovem que ganha a vida com sugar daddies que algumas “colegas” tinham recebido o auxílio emergencial para autônomos, um repórter do portal iniciou uma investigação e conseguiu contatar algumas dessas jovens.
Apenas uma delas aceitou dar entrevista por telefone. Ela contou ao repórter como conseguiu ganhar ¥1 milhão e transformar sua atuação com homens mais velhos em um negócio autônomo.
Mariko (nome fictício), disse que está no 2° ano da faculdade e que na primavera do ano passado, passou a se encontrar com um empresário do ramo imobiliário, na condição de “sugar daddy”.
Ela conta que o empresário alertou de que ela também poderia receber o auxílio.
“Até dezembro do ano passado, eu recebi ¥1,1 milhão saindo com ele. Quando entrou o estado de emergência este ano, ficamos quase dois meses sem se ver e não tive nenhuma renda neste período”.
Uma das condições para receber o auxílio é ter perdido mais de 50% da renda em abril ou maio deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Mariko conseguiu se encaixar na regra.
SUGAR DADDY VIRA NEGÓCIO

Empolgada com a possibilidade de receber o dinheiro, Mariko ligou para o escritório responsável pelo auxílio para se informar se realmente poderia entrar com o pedido.
Ela disse que atuava com um sugar daddy na condição de pequeno negócio e queria saber se teria direito a ajuda emergencial. Depois de cinco minutos de espera na linha, recebeu a resposta:
“Não é um negócio que envolva bordeis ou ação criminosa. Se puder declarar a renda do seu negócio, é possível fazer o pedido”
Era tudo que Mariko queria ouvir. Depois de receber a informação, ela trabalhou na declaração de sua renda anual pela primeira vez na vida.
“Declarei todo o dinheiro que ganhei dele no ano passado como renda. Acho que não tem muitas pessoas que declaram renda de sugar daddy, mas será que não deveriam?”, diz.
A jovem também declarou cerca de ¥250 mil (cerca de R$ 13 mil) como as “despesas” de seu negócio. Este seria o valor que ela teria investido em roupas, maquiagem e tratamentos estéticos para se encontrar com o ‘daddy’.
Ela não teve problema algum com suas declarações de entrada e saída de dinheiro e ainda teve a sorte de receber uma cobrança baixa de impostos.
“Por causa das deduções básicas e deduções para estudantes, meu imposto ficou em ¥40 mil. Nada mal se for para receber ¥1 milhão”, disse.
Mariko fez os trâmites em junho deste ano e recebeu o dinheiro no mês de julho. “Como agradecimento ao daddy, passei uma noite com ele sem cobrar nada”, conta.
PROSTITUIÇÃO!?

A história da jovem gerou muitas dúvidas se a atividade de encontros com homens mais velhos não seria prostituição e, portanto, não deveria deixar a pessoa apta a receber o auxílio.
De acordo com a reportagem do Money Post, ela se valeu da impossibilidade de comprovar se suas relações com o daddy são ou não de caráter sexual.
Em muitos casos, esses homens mais velhos pagam apenas pela companhia e chegam a dar de ¥10 mil a ¥30 mil apenas por um jantar juntos.
O caso gerou grande repercussão negativa, com comentários de que o sistema deveria ser revisado e de que isto é uma consequência de uma verificação branda, já que o auxílio era emergencial.
O portal de assuntos jurídicos Bengoshi News ligou para o escritório responsável pelo auxílio para verificar a situação. Depois de uma espera de 10 minutos na linha, ouviu a resposta:
“Casos como este acredito que podem ser excluídos. Quem decide se o uso do dinheiro do auxílio é ou não apropriado é a Agência de Pequenos e Médios Negócios”.
De acordo com o portal, há grande possibilidade de a atuação com sugar daddy não ser considerada com um negócio.
O funcionário do escritório explicou que, mesmo que o dinheiro tenha sido entregue, é possível que os documentos enviados passem por uma avaliação minunciosa e se houver a conclusão de que foi inadequado, pode ocorrer um pedido de devolução.
“Se for constatado que houve má índole na tentativa de receber o dinheiro, o caso pode se tornar judicial. É preciso tomar cuidado”, alertou.
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(Matéria publicada em 26 de setembro de 2020)