O japonês que morou dois anos na empresa em Tóquio: “dormia embaixo da minha mesa”

Esquerda: Damir Kopezhanov/Unsplash (imagem ilustrativa) / Direita: Yuta Nakajima* (Nikkan Spa)

Yuta Nakajima* tem 35 anos e trabalha para uma empresa de design em Tóquio. Ele conta que morou sozinho dos 30 aos 32 anos, com um salário líquido de ¥150 mil (baixo para a capital japonesa).

Depois de dois anos em um apartamento, foi informado sobre uma taxa de renovação do contrato do alguel, que aumentaria sua despesa. Então, tomou a decisão de sair de casa e morar em seu local de trabalho.

O portal japonês Nikkan SPA! vem contando histórias de pessoas que perderam suas moradias no Japão, principalmente após a pandemia do novo coronavírus.

Pessoas que costumavam trabalhar e viver de forma independente, se viram, de uma hora para outra, levando a vida nas ruas ou em parques.

O caso de Yuta, no entanto, é um pouco diferente. A ideia fora do comum de viver no escritório deu certo durante dois anos, apesar de muitos inconvenientes.

“Minha cama ficava embaixo da minha mesa e eu encolhia o meu corpo para não atrapalhar os colegas no escritório, já que era comum que muitos fizessem hora extra mesmo tarde da noite”.

VIDA NO ESCRITÓRIO

Yuta conta que não era fácil conciliar a rotina pessoal e profissional no ambiente de trabalho, mas não se incomodava com a presença dos colegas em seus momentos de privacidade.

“Eu já dividi apartamento antes, então não me importava com a presença de outras pessoas. O ruim era não poder mexer nos móveis do escritório do jeito que eu queria”, diz ele.

Para se sentir mais “em casa”, Yuta acabou colocando um vaso de planta ao lado de sua mesa, mas não tinha liberdade para fazer mais do que isso.

A presença constante do funcionário que vivia no escritório não trouxe conflitos com os colegas ou o chefe e o que fazia Yuta procurar outro local para dormir de vez em quando, era apenas as dores no corpo.

Quando acordou em uma manhã, Yuta acabou limpando o café que um colega derrubou (Nikkan SPA!)

“Como eu dormia no piso, sentia muitas dores no corpo e nas costas. De vez em quando eu ia para um hotel barato para ter uma noite de sono com mais conforto”.

Além das dores, as luzes permaneciam acesas mesmo durante a madrugada, o que impedia que Yuta conseguisse dormir profundamente durante toda a noite.

Como preferia dormir em outros lugares com certa frequência, ele diz que acabava sem conseguir juntar muito dinheiro, mesmo sem ter que pagar aluguel.

A reportagem do Nikkan SPA! não explicou detalhes da vida de Yuta, como onde ele fazia as refeições, tomava banho ou guardava seus pertences.

É possível que tenha utilizado banhos públicos, armários e restaurantes para que o estilo de vida no escritório desse certo.

MUDANÇA DE VIDA

O que o tirou de sua vida no escritório foi uma colega de trabalho, que ele acabou se apaixonando.

A colega, de 35 anos, achou graça quando soube do estilo de vida de Yutae os dois acabaram se aproximando e iniciaram um relacionamento amoroso.

Depois de completar dois anos vivendo no escritório, ele se mudou para o apartamento da colega e agora pensa em casamento.

Photo by Fadi Xd on Unsplash

“Para sair dessa vida sem ter onde morar, eu acho que é importante contar para as pessoas ao redor sobre a sua situação”, aconselhou.

Se acabar na mesma situação de novo, ele diz que irá usar as redes sociais para contar sua história.

“Se ficar sem casa de novo, vou escrever sobre a minha situação e assim este assunto poderá chamar atenção de outras pessoas”, garante.

*Nome fictício
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Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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