O mistério do rapaz encontrado há um ano em um sushi no Japão: “não sei quem eu sou”

Esquerda: Jiro Kasugai, o jovem que perdeu a memória (Reprodução/Abema TImes)

Era uma tarde de verão, do dia 9 de julho de 2019. Por volta das 14h, um jovem entrou sozinho em um restaurante de sushi na cidade de Kasugai, província de Aichi.

Por volta das 21h do mesmo dia, o jovem continuava lá, no mesmo lugar. Os funcionários estranharam e quando foram falar com ele, o ouviram dizer:

“Eu não sei quem eu sou.”

Alarmados, os funcionários ligaram para o número de emergências da polícia. Quando os policiais chegaram minutos depois, descobriram que o rapaz só tinha ¥128 (R$ 6,80) no bolso, lenços de papel e um abridor de latas.

Ele continuava repetindo que não sabia o próprio nome, mas seu problema de memória acabou se mostrando muito além disso. O rapaz também não sabia a idade, data de nascimento, onde mora, onde nasceu, quem são seus amigos ou familiares.

Ele foi levado pela polícia e entregue a uma instituição pública. Passou por um hospital, mas os médicos não encontraram nenhum problema em sua saúde.

O rapaz acabou ganhando o nome de Jiro Kasugai e teve a idade estimada em 25 anos. Conseguiu organizar sua vida com a ajuda de voluntários e o auxílio subsistência (seikatsu hogo), mas sua história permanece um mistério.

CAPACIDADES

Jiro não se lembra de nada que tenha ocorrido em sua vida antes de ser encontrado no restaurante de sushi. Segundo voluntários, ele não sabe como mexer em um smartphone ou como comprar o bilhete na estação de trem.

Jiro também não sabe nada sobre a geografia do arquipélago nipônico ou sobre as eras imperiais. No entanto, consegue ler e escrever em algum nível de habilidade e sabe calcular.

Jiro sabe calcular, escreve e lê um pouco, mas não conhece o mapa do Japão (Reprodução/Abema Times)

O rapaz também é capaz de digitar em um teclado e consegue fazer tarefas domésticas básicas para cuidar de si mesmo, como cozinhar, limpar e lavar roupa.

Ele assiste televisão e procura no dicionário palavras que despertam seu interesse. Jiro também adquiriu o hábito de ouvir música com um aparelho que ganhou das pessoas que lhe deram assistência. Segundo reportagem do Abema Times, tem esperança de que a memória volte.

De acordo com a reportagem, ele também costuma andar nas proximidades do restaurante onde foi encontrado, na esperança de ser visto por alguém que o reconheça.

“Pode ser que tenha alguém vivendo perto que sabe quem eu sou. Sempre penso que podem me abordar se eu estiver caminhando na região”.

VIDA NOVA

Para Jiro, ter sido encontrado naquele restaurante foi como ter renascido e ele tem medo de voltar a perder a memória.

Para que seja possível relembrar das pessoas que encontrou desde então, o rapaz guarda consigo uma caixa com fotos das pessoas que cruzaram o seu caminho desde o dia do sushi.

Álbum com fotos dos conhecidos, para o caso de perder a memória de novo. (Reprodução/Abema Times)

“Eu sofro muito quando tento pensar no que seria a causa disso, o que aconteceu no meu passado. E se eu acabar perdendo as memórias que fiz agora? Eu me preocupo”, relata.

Além de ter que viver sem saber sua própria identidade ou origem, Jiro também enfrenta problemas ligados ao sistema, já que não possui um registro civíl.

Ele conseguiu o subsídio da prefeitura depois de ganhar o nome e ter a idade estimada, mas não é capaz de trabalhar em tempo integral ou de fechar um contrato de celular, por não ter documentos.

Jiro encontrou um lugar para a morar e recebeu móveis doados na vizinhança e por voluntários.

Este ano, conseguiu trabalho de meio período em uma lancheria algumas vezes por semana e tem ajudado crianças em uma escolinha duas vezes ao mês.

“Se for algo que eu possa fazer, qualquer trabalho está bom para mim. Mas não posso entrar no sistema do seguro de saúde e sou rejeitado muitas vezes por causa disso”, diz.

Takayuki Fuji, que trabalha na Flap, uma agência de apoio na busca por emprego que tem ajudado o rapaz, diz que as lacunas do sistema o deixam com poucas opções.

“Nós explicamos a situação e alguns locais falam que vão contrata-lo, mas acabam tendo que desistir por causa do problema do seguro e as contradições do sistema”, diz.

Para fazer um registro civíl, Jiro precisa entrar com uma ação no tribunal familiar e para isso precisa de assistência de advogados, algo que ainda não conseguiu resolver.

ESPERANÇA

Enquanto segue sem saber quem ele é e de onde veio, Jiro se agarra a esperança de que alguém que o conhece saberá de sua história ou irá reconhecê-lo na rua.

Reprodução/Abema Times

Para que isto se torne possível, os voluntários passaram a divulgar neste mês as informações dele nas redes sociais.

Os voluntários contam que estão recebendo mensagens variadas, mas não sabem como agir. A polícia também não libera as informações de pessoas desaparecidas.

As informações divulgadas são de que Jiro tem 1,89m de altura e pesa 63kg. Ele tem um corte de 2cm no braço direito, gosta de aromas, de caminhar, cozinhar e confeccionar modelos de plástico.

Jiro tem aversão a leitura e comidas picantes. Não se lembra de absolutamente nada desde que foi encontrado no sushi. Mais informações podem ser obtidas pelo número 0568–83–1181 da Flap, a instituição de apoio na busca por emprego que vem ajudado o rapaz.

Fonte: Abema Times

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(Matéria publicada em 24 de setembro de 2020)

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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