Peruana diz que era humilhada por brasileiras em fábrica no Japão: “pensei em suicídio”

Imagens ilustrativas (Unsplash)

A peruana Ayumi Suematsu, de 37 anos, trabalhava há mais 10 anos em uma fábrica de eletrônicos na cidade de Iwata (província de Shizuoka).

Por causa da pandemia, acabou sendo transferida para uma linha de produção, onde passou a conviver com três operárias brasileiras. Foi aí que seus problemas começaram.

Ayumi procurou a reportagem do Japãosem Tarjas para tornar público os episódios de humilhações e agressões diárias que sofria das colegas. Ela aguentou durante dois meses, mas acabou desenvolvendo depressão e chegou a pensar em suicídio.

“Os ataques começaram desde o primeiro dia que eu entrei para trabalhar com elas. Elas gritavam comigo por qualquer coisa e tudo o que eu fazia estava errado”.

Ayumi conta que no começo achava que estava mesmo cometendo erros, pois estava aprendendo o serviço que já era automático para as colegas. Porém, com o passar das semanas, o tratamento só piorou.

“Elas me empurravam e me xingavam. Depois de um mês, eu percebi que o que estava sofrendo era bullying. Isto não é um problema só em escolas, também acontece no trabalho e não apenas por japoneses, mas entre estrangeiros também”, diz.

SEQUELAS

Photo by Sandra Molina on Unsplash (imagem ilustrativa)

Ayumi conta que, aos poucos, foi percebendo os estragos psicológicos provocados pelas agressões diárias que sofria. Ela procurou especialistas e passou a tomar remédios para ansiedade e depressão.

“Eu não conseguia mais dormir, faltava o trabalho e não conseguia me alimentar direito. Primeiro procurei ajuda online de um psicanalista, pois eu não conseguia entender o que estava acontecendo comigo”, explica.

Cintia Yamada (nome fictício), que trabalhava na mesma linha de Ayumi e as brasileiras, conta que ficava entristecida ao testemunhar os abusos diários que a colega sofria.

“Eu presenciei muita coisa e tentei ajudar de alguma forma. Conversei com as mulheres que estava fazendo aquilo com a Ayumi. Vi que ela pedia ajuda para o chefe da linha e ele simplesmente não fazia nada”, contou.

Cintia acredita que as brasileiras consideravam Ayumi como uma ameaça, por já ter trabalhadoo naquela linha de produção no passado e por ter mais tempo de fábrica.

“Como elas souberam que a Ayumi já trabalhou nessa linha há uns anos, acredito que se sentiram ameaçadas e começaram a fazer tudo isso”, sugeriu.

Além de provocar um desconforto e pressão psicológica, as agressoras também tentavam prejudicar o trabalho da colega.

“Eu percebia que elas não orientavam a Ayumi a dar seguimento no próximo modelo de peças. Mentiam para ela, diziam que estava saindo muito defeito nas peças que ela colocava. Houve várias alterações na forma de andamento da linha apenas para tentar prejudica-la”.

TENTATIVA DE ACORDO

Quando chegou no limite, Ayumi decidiu que denunciaria o caso junto ao Ministério do Trabalho.

“Não aguentava mais. Muitas vezes eu pensei em cometer suicídio, mas eu tinha ajuda psicológica. Imagino as outras pessoas que sofrem o mesmo e não tem ajuda”.

Photo by Gokil on Unsplash (imagem ilustrativa)

Ela fez a denúncia no dia 17 de julho e conta que tentou negociar com a fábrica. A peruana pediu indenização pelos danos psicológicos, além do pagamento de suas despesas médicas e a demissão das três operárias envolvidas.

“Fizemos uma reunião e eles disseram que investigariam o caso. Pretendia fazer um acordo para arrumar o problema interno dentro da fábrica e evitar um processo”, conta.

A investigação foi conduzida através de entrevistas e um mês depois, Ayumi ouviu dos superiores que não aceitariam nenhum acordo.

“Eles me disseram que não era bullying, só algum tipo de maltrato porque elas são assim mesmo, sem educação e grosseiras. Falaram que a fábrica não ia pagar nada, que eu só podia entrar com o pedido de acidente de trabalho”.

Ayumi não se conformou com a decisão.

“Eu não consigo mais trabalhar, estou em tratamento psicológico e sendo medicada. E elas continuam lá, como se não tivessem feito nada. Eu me sinto mal só de pensar em ir trabalhar e não vou deixar assim”.

PROCESSO

A peruana conta que já começou a se reunir com advogados e que irá processar a fábrica e pedir mais de indenização do que pretendia no acordo. Para isto, pretende usar provas, como atestados médicos e o depoimento de testemunhas.

“A fábrica é de uma empresa grande, presente em vários países da Ásia. O processo deve demorar meses e sei que será difícil, mas eu quero fazer justiça, este é o meu objetivo”.

A peruana conta que procurou o Japão sem Tarjas não apenas para contar a história, mas também para ajudar outras pessoas que possam estar passando por situações parecidas.

“Depois que aconteceu esse assédio laboral comigo, percebi que não há muitas informações disponíveis. Quero deixar o exemplo e por isto vou seguir até o final. Isto não deveria acontecer com ninguém”, completa.

Para quem está passando por um problema semelhante ou que envolva questões trabalhistas, é possível realizar uma consulta com o Ministério do Trabalho. Veja mais informações: clique aqui.

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(Matéria publicada em 5 de outubro de 2020)

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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