Japonês conta que convive com o vício em pachinko há mais de 20 anos: “já torrei ¥90 mil em um dia”

Yukio Takeda*, de 38 anos, diz que já não gasta mais tanto dinheiro em um único dia no cassino japonês, mas sente aflição e não consegue conter a vontade de jogar nos dias livres.

Foto: Portal Career Connection.

Os populares cassinos do Japão, chamados de “pachinko”, são constantes alvos de polêmica. Os jogos provocam dependência, instabilidade financeira e emocional, problemas de relacionamento e agravam a situação de vida de muitos indivíduos.

O portal Career Connection decidiu colher depoimentos de pessoas que possuem vício nos jogos e nas máquinas caça-níqueis e publicou um relato surpreendente, de um homem de 38 anos que se diz viciado desde os 15 anos.

Yukio Takeda* conta que teve seu pior momento na adolescência. Ele largou o ensino médio e arrumou um trabalho de meio período em um posto de gasolina. Na época, vivia pedindo adiantamento do salário.

“Eu ganhava ¥90 mil por mês no posto e conseguia torrar tudo em um único dia, em um jogo chamado Lupin, que tem no pachinko. Quase todos os meses eu tnha que pedir adiantamento de salário, lutava para sobreviver todos os dias”, relatou.

Questionado sobre o quanto já gastou com as máquinas do pachinko, Yukio diz que não sabe, mas tem alguma noção.

“Não sei o valor total, mas acredito que seria possível comprar uma casa em uma cidade de interior com o que eu já gastei. Quando perco muito dinheiro, tenho vontade de parar, mas não consigo”, diz.

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Dias atuais e a vida no pachinko

Foto: Kelly Sikkema – Unsplash (imagem ilustrativa)

O vício começou aos 15 anos e hoje, com 38 anos, Yukio diz que nunca deixou de frequentar o pachinko, nem nos piores momentos.

Atualmente, ele vive em uma circunstância melhor do que no passado e já não precisa mais pedir adiantamento de salário para sobreviver.

“Hoje eu tenho o meu próprio negócio e vivo do lucro, que chega a ¥40 mil em um dia de atuação. Quando era um trabalhador formal, que dependia do salário fixo do mês, minha vida era um inferno”, desabafou.

Em mais de duas décadas de jogos, o japonês conta que já perdeu grandes quantias de dinheiro, mas também ganha eventualmente. O que move o jogador de volta ao pachinko, mesmo que no fim das contas fique no prejuízo, é a lembrança das vitórias passadas.

“As vezes eu ganhava ¥250 mil em um único dia e cerca de três vezes no ano acontecia de ganhar mais de ¥200 mil no dia. Hoje meus hábitos são diferentes. Antigamente eu torrava ¥100 mil com facilidade, hoje eu jogo ¥20 mil ou ¥30 mil e se não dá certo penso que não vai adiantar, porque não vou ganhar naquele dia”, diz.

A situação financeira atual sustenta o vício com mais facilidade, mas o japonês se sente infeliz do ponto de vista emocional.

“Nos dias de folga, a vontade de ir ao pachinko vem com muita força. Eu fecho a loja e vou, mas é raro ganhar e sinto arrependimento sempre. Além disso, quando fecho a loja de propósito para ir, sinto culpa pelos clientes, penso que eles podem não vir mais e me sinto mal”, desabafou.

O vício o leva a deixar a loja de lado de vez em quando e correr ao pachinko, mesmo consciente das baixas probabilidades de ganhos financeiros

“Eu sei que isto não é bom para mim, mas não consigo parar. Acho que o dia que eu vou parar totalmente ainda virá”, comentou.

*nome fictício

Fonte: Career Connection (em japonês).

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Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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