O espanto de uma japonesa que descobriu que o marido fotografava por baixo da saia de mulheres: “ele era um bom homem”

Misaki Ida*, de 30 anos, passou a desconfiar da atitude do marido, que estava sempre com o celular, dia e noite e ficava bravo se alguém tocasse no aparelho.

Foto: Shujo Prime (imagem ilustrativa)

Fotografar por baixo da saia de mulheres em locais públicos é um crime corriqueiro no Japão e muitas vezes o praticante é um homem comum, que tem um trabalho, família e responsabilidades.

O portal Shujo Prime contou a história de Misaki Ida*, uma japonesa de 30 anos, que descobriu que o marido, na faixa de 40 anos, praticava este crime em segredo. Ela contou que começou a desconfiar da atitude do marido há um ano.

“Ele começou a ficar esquisito, passava dia e noite com o celular, levava ao banheiro e quando ia tomar banho. Sempre foi um homem gentil, mas uma vez ficou furioso porque me viu tocando no celular”.

Misaki achou suspeito e pensou que estivesse sendo traída. Aguardou uma oportunidade em que o marido se distraísse para olhar o que tinha no celular dele. Quando abriu o aplicativo de fotos do telefone, se surpreendeu.

“Tinham centenas de fotos por baixo da saia de mulheres. A minha vista escureceu, eu fiquei em choque. Eu perguntei e ele negou no início, mas depois admitiu”, revelou.

Ao admitir o crime, Misaki diz que o marido apagou todas as fotos, se ajoelhou e pediu desculpas, mas a situação não poderia acabar assim.

“Essa memória ainda está ressoando em algum lugar do meu cérebro. É difícil entender. Ele ia bem no trabalho, ajudava a cuidar da casa e das crianças, era positivo e um bom homem, se não fosse pelo que fez”, desabafou.

O perfil dos criminosos

Foto: Luke Porter – Unsplash (imagem ilustrativa)

Casos como o do marido de Misaki podem ser mais comuns do que parecem. Este tipo de crime acontece em locais surpreendentes e as vezes o tarado é alguém com um cargo de confiança, uma autoridade ou uma pessoa publicamente respeitada.

Em abril deste ano, houve um incidente do tipo no banheiro do prédio da Dieta Nacional do Japão. O homem que tirou a foto era um funcionário do Ministério da Economia, Comércio e Indústria.

E nem mesmo a polícia escapa. Em agosto, um policial de 35 anos do Departamento de Investigação de Wakayama estava em uma viagem de trabalho em Tóquio quando foi flagrado fotografando por baixo da saia de uma mulher. Ela percebeu e aconteceu um confronto que fez o policial cair e se machucar. Ele acabou indiciado.

As notiícias de homens presos por tirar fotos escondidas representam apenas uma parcela da realidade. Segundo os dados da polícia, em 2010, 1741 casos foram registrados e em 2019, o número subiu para 3.953. Há muitos casos em que a vítima não percebe e o criminoso não é descoberto e por isso, o número deve ser bem maior.

Akiyoshi Saito é especialista em bem-estar social e saúde mental e atua na Clínica Ofuna Enomoto, em Kamakura (Kanagawa). No trabalho, ele trata pacientes que possuem um vício sexual, muitos são responsáveis por crimes como esses ou ainda por assédio sexual no transporte público.

“Entre maio de 2006 e março de 2020, fizemos uma pesquisa com 521 pacientes que tiravam fotos escondidas. Percebemos que a maioria são homens formados na faculdade, com um trabalho comum em empresas. Cerca de metade deles eram casados”, explicou.

O que mostra que muitos homens com o marido de Misaki podem ter este hábito secreto. Além disso, os dados da pesquisa da clínica também indicaram que há muitos jovens praticando este crime.

“Os nossos dados mostraram que 70% deles começaram a fotografar quando tinham 20 anos ou menos. A idade média é de 21,8 anos. Os lugares preferidos são prédios de estações de trem, escadas comum, escadas rolantes ou dentro dos vagões”, diz.

Os dados da Agência Nacional de Polícia mostram que em 2019, 30% dos casos de flagrantes aconteceram em estações ou nos trens. 

A imagem do criminoso pode ser de um sujeito que usa microcâmeras escondidas em canetas ou pastas, mas na realidade, a maioria dos crimes é cometido com o celular.

“Entre os nossos pacientes, 90% usou aplicativos para tirar o som na hora de bater a foto e então tiravam as fotografias sem serem percebidos”, revelou.

Fuga do estresse diário

A pergunta principal é o que leva tantos homens a tirar fotos por baixo da saia de mulheres em locais públicos no Japão. Akiyoshi explica que a motivação inicial para este crime é muito diferente dos motivos que levam o sujeito a continuar praticando com o passar do tempo.

“Muitos começam com uma excitação sexual e para fins de masturbação. Aos poucos, o objetivo muda. No começo eles ficam com medo de serem pegos e nervosos, mas batem as fotos com facilidade e ficam satisfeitos de terem conseguido”, explica.

A atividade se intensifica até que o objetivo se torna bater a foto por bater e então eles continuam. 

“Acabam viciados na atividade de conseguir fotografar sem serem vistos e muitos sequer olham as fotos depois. Um paciente disse que sente como se estivesse lendo o diário secreto de alguém. É um entusiasmo que não encontra na vida cotidiana e salvar vídeos e fotos provoca um sentimento de posse, domínio e superioridade “, disse.

No fim das contas, o crime envolve muito mais do que o vício sexual e o problema psicológico indica as lacunas na vida de quem pratica.

“São muitas coisas. O complexo de inferioridade, solidão, falta de respeito próprio e incapacidade de satisfazer a necessidade de aprovação. O estresse diário é combatido com o ato de tirar fotos escondidas, praticam crimes sexuais em tentativa de aliviar suas tensões”

*Nome fictício

*Siga a página Japão sem Tarjas (veja aqui) e acompanhe novas publicações.

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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