Japonês passa uma semana com peso de 5kg na barriga para descobrir como uma gestante se sente no 2º semestre

Kohei Ogawa passou uma semana com um peso de 5kg na barriga. Foto: Maidona News.

Okayama – A gestação é uma experiência única na vida da mulher e um momento intenso no qual os homens não podem sentir na pele. 

Embora o homem se envolva e se alegre com a formação e nascimento de um filho, só a mãe sabe o que é carregar o bebê na barriga, acompanhar as fases do desenvolvimento, os sintomas e o turbilhão emocional.

O repórter japonês Kohei Ogawa, de 26 anos e que atua em Okayama, ouviu uma gestante contar sobre suas dores e não esqueceu a conversa. A mulher comentou que, com a proximidade do parto, se tornou ainda mais difícil trabalhar. Kohei queria entender como era ter o peso de um bebê quase pronto para nascer na barriga.

Ele decidiu então passar uma semana com um suporte de 5 kg na barriga, o que seria comparável ao peso em que a gestante carrega entre 32 e 35 semanas. Durante sete dias, Kohei experimentou o máximo possível a vida de uma grávida, considerando os hábitos e a alimentação.

A experiência foi mais difícil do que ele imaginou e trouxe aprendizados sobre as mulheres. Embora não seja possível simular o sentimento de ter um feto em desenvolvimento, as emoções, os movimentos e tudo mais o que envolve a experiência real de ter um filho.

O relato foi compartilhado em uma reportagem do jorna Sanyo Shimbun e no portal Maidona News.

O relato do repórter “grávido”

Foto: Maidona News.

“Assim que comecei a experiência eu já fiquei surpreso com o peso na minha barriga. Os 5kg representam o período que antecede a licença maternidade, para as mulheres que trabalham. Eu estava preparado para carregar o peso o tempo todo, exceto pelo momento do banho no ofurô, mas foi muito mais difícil me locomover do que eu achei que seria.

Fui de bicicleta fazer uma entrevista para uma reportagem. O peso da barriga tornou difícil me manter equilibrado e eu não podia levantar enquanto pedalava. Para pisar nos pedais eu também precisava de mais força do que o comum. A sorte é que a minha entrevistada do dia teve consideração pela situação quando eu expliquei e isso me deixou feliz.

Ela disse ainda que, como eu estava “grávido”, eu precisava me sentar. Conversamos enquanto eu sentia o impacto do esforço físico e o meu corpo estava cansado. Não consegui me concentrar tanto nesta entrevista.

Quando voltei para a casa, o que foi mais difícil foi limpar a banheira. Eu tentei limpar agachado, mas fiquei a ponto de perder o equilíbrio. Eu pensei sinceramente que seria difícil aguentar uma semana inteira nesta condição. Logo comecei a reclamar de tudo. Quando ia dormir, a barriga pesava e era difícil pegar no sono. Os prejuízos só aumentavam.

A minha simulação de gravidez fez-me deparar com um monte de anormalidades. Por causa do peso na barriga, passei a sentir dor nos quadris, principalmente quando acordava. Mesmo assim, tentava me aproximar ao máximo da experiência real de uma mulher em gestação.

Neste período, controlei a vontade de beber álcool. A cada dois dias, eu costumava beber de duas a três latas de cerveja, mas parei e me concentrei em bebidas sem álcool e sem cafeína. As refeições também foram planejadas de forma mais saudável. De manhã comia iogurte, salada no almoço e um prato de peixe e brócolis na janta.

Engraçado que isto não me gerou estresse em particular. O peso da barriga pode ter feito o meu apetite diminuir e eu me sentia outra pessoa. Mas os encontros com amigos foram bem difíceis, pois precisava controlar o impulso de beber e pensei que devia ser bem difícil para uma mulher que goste de bebida alcoólica.

Enquanto dormia, minha panturrilha direita começou a doer. Uma mulher com filhos me contou uma vez que no 2º semestre da gestação era fácil de dar cãibra e eu pensei que isto também aconteceria comigo. Acho que estava muito determinado a ter uma experiência o mais real possível até o fim.

A minha mãe contou sobre alguns momentos da gravidez de mim e meus dois irmãos. Ela disse que se preocupava com as refeições e que até o quarto mês, engordou cerca de 10 kg. Por causa do risco de complicações, tinha que tomar cuidado com o que comia e bebia e isto foi difícil para ela. Eu pensei que queria saber mais sobre as experiências das mulheres.”

Leia também: A “doença misteriosa” que levou muitas mães ao pediatra depois do surgimento de manchas nos pés das crianças no Japão.

Aprendizados da experiência

Uma colega de trabalho ficou admirada com a experiência de Kohei, que é solteiro, não tem filhos e então não chegou nem a acompanhar a gestação de uma namorada ou esposa, mas se esforçou para compreender a experiência feminina.

“Eu fico muito feliz em ver um homem se esforçando para nos entender”, comentou.

Em abril, a lei sobre criação de filhos e cuidado de idosos no Japão foi reformada e em outubro, uma nova determinação entrará em vigor com relação ao sistema de licença-paternidade

Os papais poderão tirar até quatro semanas de folga nas primeiras oito semanas após o nascimento e em até dois períodos diferentes. Para isto, será preciso solicitar com duas semanas de antecedência.

Depois da experiência, Kohei passou a pensar que as mulheres também precisam do suporte de seus companheiros antes do momento do parto.

“Espero que em um futuro próximo, qualquer homem possa dizer no trabalho que irá tirar folga no dia, pois a esposa gestante não está em boas condições físicas. Desejo que se construa uma sociedade em que este tipo de consideração seja normalizada e fique fácil para os homens ajudar suas companheiras”, declarou

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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