Japonês gay de 93 anos diz que nunca namorou: “guardei como segredo a vida toda e fui solitário”

Em documentário, Tadashi Hase conta que finalmente contou aos amigos que é homossexual em 2018, aos 89 anos. Ele não casou e nunca teve um namorado.

Tadashi Hase, aos 93 anos, em documentário da Emissora MBS. Reprodução/MBS

A decisão de se esconder do mundo e levar uma vida sem mostrar quem você realmente é pode ser muito dolorosa. E o japonês Tadashi Hase, de 93 anos, é a prova viva disso. 

O japonês nascido em Kagawa se descobriu gay na infância, na década de 1930, mas a época era ainda pior do que hoje e ele decidiu guardar sua essência como um grande segredo, protegido a sete chaves.

Ele nunca casou, nunca teve um namorado e sequer permitiu-se envolver com alguém. Até 2018, aos 89 anos de idade, ninguém sabia que ele era gay. Mas algo aconteceu naquele ano e ele finalmente contou para as pessoas próximas.

A história de Hase foi contada em um documentário da emissora MBS (veja mais informações aqui), exibido no último domingo (26). Ele disse que seu primeiro amor foi um professor que teve na escola primária.

Depois disso, percebeu que se apaixonava e sentia atração sexual apenas por outros homens, mas o preconceito era grande demais para que ele ousasse se envolver amorosamente com alguém.

“Eu não sabia se tinha alguém como eu no meu círculo social e nunca fui capaz de falar para a minha família. Tive 11 empregos e vivi com muito medo de que descobrissem que eu sou gay. Por isso, sempre evitei criar intimidade com outras pessoas”, desabafou.

Uma vítima do preconceito

Tadashi Hase só contou para as pessoas próximas que é gay em 2018, aos 89 anos de idade. Foto: Reprodução/MBS

Por muito tempo a homossexualidade foi considerada uma doença que podia ser curada. O preconceito social era muito grande e assustador para qualquer gay, na época em que Hase viveu sua juventude. Apenas em 1971 o Japão viu a Barazoku nascer, a primeira revista lançada ao público gay. 

Uma pequena mudança aconteceu graças ao editor da revista, Bungaku Ito, que ainda está vivo aos 90 anos. Ito passou a defender que não tinha nada de errado com os gays: “isto não é uma aberração e muito menos uma doença”.

Depois disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) finalmente declarou que a homossexualidade não é uma doença e não deve ser tratada. Este conhecimento foi então reconhecido também no Japão, embora o preconceito nunca tenha deixado de existir.

Hase passou pelos anos mais difíceis para a comunidade gay no Japão, viu algumas mudanças positivas acontecerem, mas não se sentiu confiante para se revelar ao mundo. Ele começou a transbordar suas frustrações no papel e escreveu muitas poesias e histórias ficcionais com pseudônimo.

Nestas histórias, ele permitia revelar sua essência que ninguém no seu convívio sabia. Quando estava na casa dos 30 anos, chegou a ganhar um prêmio por suas poesias e até mesmo hoje continua escrevendo e transformando as emoções que foram reprimidas por décadas em arte.

Atualmente, muitos gays e lésbicas vivem com seus parceiros e parceiras e há uma manifestação mais evidente para que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja reconhecido em todo o Japão. Isto faz com que Hase sinta que sua vida poderia ter sido diferente.

“Se eu tivesse nascido na época atual, com certeza teria uma vida muito diferente. Quero que a sociedade aprenda a respeitar e aceitar as diferenças que temos como seres humanos”, diz.

Autor: Ana Paula Ramos

Jornalista e escritora, Ana tem sete anos de experiência no Japão, atuando como repórter na comunidade brasileira e como freelancer. Ela é a fundadora do Japão sem Tarjas e criadora do grupo ambiental "Por que você também não faz?". Em outubro de 2020, publicou o primeiro livro, "O Oitavo Andar", um suspense que se passa na cidade de Gramado. Em 2022 publicou o segundo livro, "O Diário da Minha Vida Ingrata", uma fantasia criada a partir de uma história real.

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